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UROLOGIA

DOENÇAS  I  UROLOGIA RECONSTRUCTIVA E PROTÉSICA

DOENÇA DE PEYRONIE

DEFINIÇÃO

     Também designada “induratio pénis plástica”, ou inflamação crónica da túnica albugínea, é uma doença adquirida do tecido conjuntivo, que envolve o aparecimento de placas fibrosas em tecidos moles do pénis. Afecta cerca de 5% dos homens adultos. As placas fibróticas afectam a túnica albugínea, causando dor/desconforto, curvatura anormal do pénis, disfuncção eréctil, indentação, encurtamento peniano e redução do seu diâmetro.

 

ANATOMIA NORMAL PENIANA

     Para uma normal compreensão desta doença, é útil conhecer as bases da anatomia e do normal funcionamento do pénis.

 

(Desenho do Gelman com legendas em Português)

 

     As principais estruturas do pénis, que contribuem para um estado de erecção, são os corpos cavernosos, revestidos por uma túnica firme, a túnica albugínea, que contém um rico tecido vascular esponjoso. As artérias, veias e nervos importantes, responsáveis pela circulação sanguínea e sensibilidade do pénis cursam ao longo do pénis, entre a túnica albugínea e a pele. A túnica albugínea normal é uma estrutura elástica e distensível. Durante a erecção, os corpos cavernosos enchem-se de sangue, provocando erecção à semelhança de um balão, quando se enche de ar. Durante a erecção, as veias colapsam-se, ocluem-se, mantendo osangue dentro dos corpos cavernosos do pénis, assegurando o estado de erecção.

CAUSAS

     A causa da doença de Peyronie é, actualmente, incerta e continua por esclarecer.

     Pensa-se ser provocada por traumatismo ou lesão peniana durante a actividade sexual, embora muitas vezes não seja reconhecida ou apercebida pelo doente. Forma-se uma placa ou cicatriz na própria túnica albugínea, que impede a distensão e alongamento da túnica albugínea e do pénis, causando curvatura e encurtamento penianos.

    Alguns doentes com doença de Peyronie têm também Contractura ou Doença de Dupuytren, processo fibrótico semelhante, envolvendo a palma da mão. Em casos mais raros, pode haver Contractura ou Doença de Lederhose, o que leva a suspeitar de que certos indivíduos estão geneticamente predispostos para esta doença.

 

DIAGNÓSTICO

     A avaliação destes doentes passa por uma história detalhada e exame objectivo. 

     Em geral, esta doença não é possível avaliar de forma correcta com o pénis em flacidez. Por isso, é muito importante que o doente forneça fotografias digitais do pénis em erecção, de vários ângulos, para uma clara documentação da extensão da curvatura. Esta doença é caracterizada por uma fase imatura e uma fase madura. Os 1ºs 3-4 meses de evolução (fase imatura), caracterizam-se por uma reacção inflamatória, que provoca dor, principalmente em erecção, e à palpação. A placa, que se pode palpar, não traduz infecção do pénis, não é tumor, nem é sexualmente transmitida. Na fase madura, a reacção inflamatória já desapareceu. No entanto, à medida que a doença progride, a placa torna-se mais dura e acompanha-se de agravamento da curvatura e do encurtamento do pénis. Este processo pode dem,orar 6-8 meses, seguindo-se um período de estabilização da doença, em que ocorre resolução da dor e ausência de alterações da curvatura peniana. Este período de estabilização da doença deve durar, pelo menos, 6 meses para se poder iniciar terapêutica cirúrgica. Em resumo, não se deve colocar indicação cirúrgica nesta doença, salvo raras excepções, antes de decorridos 12 meses desde o início da doença ou do seu diagnóstico.

 

TRATAMENTO MÉDICO

     Têm sido tentados vários tratamentos não cirúrgicos, alguns deles continuando disponíveis. Em geral, e infelizmente, estes tratamentos não são muito eficazes. Isto deve-se ao facto de a curvatura estar relacionada com a formação de uma placa densa, não elástica no pénis. Para a medicação (pomadas, comprimidos e injecções locais) ser eficaz, teria de actuar sobre a placa, ou área cicatricial, fibrótica, transformando o tecido afectado em tecido saudável e elástico. Até à data, nenhuma medicação demonstrou esta capacidade de forma eficaz. Menciona-se a seguir uma lista de apenas alguns dos tratamentos médicos mais frequentemente utilizados:

           

Vitamina E (oral)

     É um antioxidante, barato, frequentemente utilizado, mas sem eficácia comprovada.

           

Colchicina (oral)

     Frequentemente utilizada no tratamento da gota, é um inibidor da divisão celular, principalmente dos granulócitos, implicados no processo inflamatório. Como efeitos indesejáveis, este medicamento pode causar queixas gastrointestinais e leucopénia (redução de glóbulos brancos sanguíneos)

Potaba (oral)

     Composto farmacológico de potássio para-aminobenzoato, possui um mecanismo anti-fibrótico e pensa-se impedir a fibrose (cicatrização), através do aumento da captação de O2 a nível tissular. A dose recomendada é de 4 (0,5 gr) cápsulas 6x/dia durante vários meses, o que não é muito aliciante para os doentes pelo elevado nº de cápsulas que têm de ingerir.

 

VERAPAMIL (injecção peniana/intralesional)

     É um inibidor dos canais de Ca2+, frequentemente utilizado no tratamento da hipertensão arterial. Pensa-se que a sua injecção na área da placa poderá alterar a função dos fibroblastos, células envolvidas na cicatrização de feridas.

 

PENTOXIFILINA (Tentral®, oral, 400 mg 3x/dia)

     Medicação utilizada já há alguns anos no tratamento da claudicação intermitente (cãimbras) dos membros inferiores.

 

     Muitos dos doentes com doença de Peyronie procuram um tratamento médico (não cirúrgico) eficaz. As opções mencionadas acima, e outras, podem ter algum potencial benefício, mas, em geral, o tratamento médico não demonstrou eficácia estatisticamente relevante em ensaios clínicos aleatórios com grupos de controlo, tendo como critério de sucesso a alteração de uma curvatura, que impede o coito satisfactório para uma curvatura funcionalmente insignificante. Embora não desencorajemos doentes de tentar qualquer dos tratamentos atrás referidos, presentemente não propomos, ou oferecemos, quaisquer novos tratamentos experimentais. Alertamos os doentes também para “tratamentos” publicitados na internet, porque o objectivo principal é vender um produto, isto é, apenas lucrativo, mesmo quando a sua eficácia é publicitada de forma claramente exagerada. No nosso centro não vendemos qualquer produto, nem possuímos ligações financeiras com companhias farmacêuticas ou fabricantes de produtos. Este website não contém qualquer publicidade.

 

TRATAMENTO CIRÚRGICO

     Com raras excepções, o tratamento cirúrgico só deve ser recomendado na fase madura, de estabilização da doença, o que ocorre habitualmente 12 meses após início dos sintomas. Doentes com doença estabilizada e curvatura mínima, sem impacto na sua vida sexual, não são candidatos à cirurgia. Doentes com disfunção eréctil associada, devem ser tratados em 1º lugar, ou em simultâneo com a correcção da curvatura peniana, uma vez que esta correcção não resolve os problemas de rigidez eréctil. Os candidatos ideais para a cirurgia reconstrutiva são aqueles com doença estabilizada, habitualmente com mais de 12 meses de duração e curvatura suficientemente marcada, que impeça a penetração, ou cuja penetração cause grande desconforto para a parceira.

 

Existem várias opções cirúrgicas:

1) técnicas de plicatura, encurtando o lado mais longo (lado convexo;

2) técnicas de enxerto, rectificando e alongando o lado curvo, ou côncavo, do pénis;  3) considerar implantação de prótese peniana, ou injecção intracavernosa, em casos de disfunção eréctil.

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